domingo, 23 de maio de 2010

Hay mas en esta vida que solo foc. BCN - Day 1.

Hoje amanheci com a certeza de ter pela frente um dia brutal. Após uma semana de muito trabalho e de cansaço acumulado, dormi. Dormi muito e dormi bem. Hoje estou, pela primeira vez em muito tempo (2 anos parece-me), sozinha em casa e nada me poderia dar mais prazer.

Como planeado, consegui ficar até mais tarde na cama, mas ainda com muitas horas pela frente. Levantei-me, tomei o pequeno-almoço e parti para o banho. Troquei a areia do gato (how charming!), arrumei a cozinha e almocei. Com música. Com calma. Em paz.

Vesti-me, passei os olhos pelos livros de costura - os projectos acumulam-se nas minhas ideias. Por enquanto, sem máquina, nada posso fazer. Por isso, parece-me um excelente dia para actualizar o blog. A lista do lado tem sido riscada, mas nada tem sido comentado por aqui. Time to change.

Não sei por onde começar... Talvez por Barcelona.


É raro que algo na minha vida aconteça como planeado e de forma pacífica. Mas também são normalmente os imprevistos que me dão mais adrenalina e me fazem sentir mais viva, pelo que já consigo viver bem com esta realidade. A viagem não foi excepção.

Ainda no check-in, estranhámos quando perguntaram à S. pelo seu passaporte. Ela não havia reparado, mas o seu BI estava caducado pelo que, por pouco, o passeio não acabava mesmo por ali. Superado o primeiro obstáculo, entre gargalhadas, fotografias e muitas borboletas na barriga, é hora de embarcar. O calor é mais que muito (há que vestir muitos casacos para enfrentar o frio de Barcelona, e escapas à mala de porão) e, no limiar da desidratação, opto por voltar a pôr um dos casacos na mala comprada pela mãe à última hora, e já não a consegui fechar. Percebi rapidamente no que é que a Oriflame precisou de poupar para vender trolleys por 11€ - no fecho! Foi assim esta a minha imagem acabadinha de chegar ao destino, arrastando uma mala presa com um cinto. Sounds just perfect =)

A destacar: "Trava trava cabrón!" gritado dos últimos bancos do avião aquando da aterragem. Priceless!

Hora de ligar os telemóveis, ver a morada do F., ligar-lhe para receber orientações. Fiquei espantada quando vi o meu ligado, e ainda mais estupefacta quando o vi desligar-se por falta de bateria. O mesmo com o da S., brilhante! Uma cidade desconhecida, sem moradas e sem telefones. Tínhamos a referência do W, hotel onde o F. trabalha - pensámos! Toca de atacar os guias, mas o W não constava. Não fazíamos a mais pequena ideia onde seria. Bem, também qual seria a coisa mais grave que poderia acontecer? Termos que andar o resto do dia com as malas (a minha lá continuava com o cinto) e dormir noutro sítio qualquer. Na verdade na verdade, aquele episódio propiciou-nos uma sensação de liberdade muito mas muito boa. Lá fomos nós à deriva.

Quisemos evitar os 5€ do aerobus, procurámos o autocarro que nos levaria ao comboio. Encontrámos, tanto o autocarro como o aeroporto (de novo, no lado oposto), dado que foi para onde o mesmo autocarro nos transportou. Mas era mesmo assim, a estação de comboios era no próprio aeroporto, por isso não, não nos tínhamos enganado.



Plaça de Catalunya. Continuávamos sem saber que direcção tomar, e os cafés não tinham tomadas disponíveis. Portanto, hora de Frigo Pie - aquele gelado da minha infância que, por razões que não entendo, a Olá deixou de vender em Portugal. Só por isso, Barcelona já teria valido a pena.
Nessa tarde, havia uma luz esplêndida nas ruas. As pessoas acotovelavam-se nas Ramblas, e acumulavam-se no jardim de la Plaça. Decidimos juntarmo-nos a elas, pousámos as malas na relva e por ali ficámos. Fotografias, gargalhadas e borboletas parte II!

Como é boa a vida e tralala e como são mais que muitos os carteiristas por ali! Lembrámo-nos mesmo a tempo dessa realidade quando senti um olhar suspeito, e agarrei a máquina fotográfica. Uns metros ao lado, com menos sorte, um outro turista foi caçado. Não percebemos se algo foi roubado, mas a mestria com que aqueles roubos são feitos é impressionante! Quase não se dá por nada! Foi um belo primeiro contacto, mas que nos deixou alerta para os restantes dias.

Outra coisa comum en la Plaça são os pombos. E descobrimo-lo da pior maneira. Safámo-nos do carteirista, mas não do pombo que decidiu aliviar-se mesmo em cima de nós! Estórias...


Conseguimos contactar o F. menos de 1 hora depois. No Starbucks cederam-nos uma ficha. Não sou fã, acho que o Starbucks vive do Marketing e que a qualidade não é proporcional à sua popularidade, mas fiquei rendida com a atitude. Não prometo consumir, mas prometo não difamar. Comunicações estabelecidas, rua identificada. Sentido de orientação feminino... Lá fomos nós Ramblas fora, Vicky Cristina no mp3, sorrisos mais que muitos, emoções em explosão. A rua acaba, estávamos perdidas, tínhamos ido no sentido oposto. Ponto negativo: 1h30 a andar com malas numa rua completamente apinhada de gente; Ponto positivo: encontrámos o W!

Chegadas ao hotel, malas entregues, era hora de rumar a Barceloneta. Uma espécie de Costa da Caparica em Barcelona, mas que nos deixaria memórias fabulosas.

A noite foi passada no Foc You. Reunimo-nos com o F., conhecemos os seus amigos e a Rosita, a mexicana que lá trava. Te quiero mucho Rosita! :)

Nesta noite começámos a aprender algumas lições de Barcelona:
1) Hay mas en esta vida que solo foc";
2) Em Barcelona, tudo se mede em 10 minutos e em 20€;
3) Bebemos sempre mais do que pagamos.


End of day 1!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

2010: "Relativizar"


*Ilustração de Maria Nogueira

"É tudo uma questão de atitude!" - diz-se sempre. É verdade. Pela primeira vez em muito tempo (3 anos talvez), estou cansada. Mas cansada porque vivo. As minhas semanas foram do estado "pasmaceira total" ao estado "actividade (quase) permanente. E estou a adorar. Hoje acordei e contei os dias que faltam até poder ficar a dormir até mais tarde - 4 dias. E decidi que no próximo Domingo não vou fazer absolutamente nada. Sei que a probabilidade disto acontecer é baixa, até porque, especialmente em dias de Sol, salto da cama pouco depois das 8h e, com toda a gente a dormir, não me resta senão sair para a rua e aproveitar a manhã. De qualquer forma, vou tentar.

Na passada 6ª feira, tornou-se real (e foi até cómico) esta situação. Em conversa com a chefe que me convidou para a inauguração de uma exposição nesse mesmo dia, a minha resposta foi: "Sabe, hoje não consigo ir à exposiçã0. Tenho que aproveitar para ir ao Mundo Mix, dado que este fim-de-semana vou para a Zambujeira". E foi uma excelente sensação.

Estou, sem dúvida, a ter um dos melhores anos da minha vida. Um ano de novas atitudes. 2009 fechou-se, entre discussões, ao som da passividade. 2010, o ano do avental, acordou com a certeza da mudança. E ao ver a minha lista, riscada de semana para semana, sinto-me em paz. 2010 trouxe-me uma nova palavra: "Relativizar", e ainda bem :)

sábado, 8 de maio de 2010

Há rostos tecidos de palavras...

... e gente movidas a sonhos, em cujo olhar descobrimos, extasiados, aquilo que em tempos fomos. Homens-astros, impossíveis na sua beleza estrelar, anunciam tempos novos.

Em reinos de marfim onde até mesmo a mais pequena fracção de terra refulge, decretam leis invisíveis, planeiam novos modos de obterem a concórdia absoluta e, no fim, escarnecem da tosca grandiloquência humana.

"É matéria altamente ilusória esta! Não confiem no que os vossos olhos vêem", contrapõem os cépticos do costume, desejosos de fazerem alastrar a secura interior que os devasta e silenciarem os que ousam a felicidade.

Temem que a sua mensagem faça implodir os seus edifícios de soberba, mas desconhecem que a queda há muito ocorreu, espoletada por eles próprios. E então, como que por milagre, todas as faces se reúnem numa só. Um único traço os une, indestrutível na sua aparente fragilidade: o sorriso.

Sérgio Almeida
(EPOPEIA PARA ADULTOS ACRIANÇADOS)*


*espantosamente descoberto na Feira do Livro .10

Ilustração de Suzy Lee, em "Espelho"