sexta-feira, 9 de novembro de 2007

A morte saiu à rua

A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome pra
qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue dum
peito aberto sai


O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
E o som da bigorna como um clarim do
céu
Vão dizendo em toda a parte o pintor morreu


Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente
por dente vale
À lei assassina, à morte que te matou
Teu corpo pertence
à terra que te abraçou


Aqui te afirmamos dente por
dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da
estrada, há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação

José Afonso

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